Quem tem medo de Virginia Woolf?

10/08/2011


Duas horas e onze minutos de diálogos corrosivos, sarcasmo, acidez, humor negro e uma imensa dose de destruição mútua entre os quatro protagonistas. Quem tem medo de Virginia Woolf? é um filme que, ao chegar ao fim, deixa o espectador tão desgastado quanto os próprios personagens. Oscilando entre mentiras e verdades - ou verdades tratadas como mentiras e mentiras anunciadas como verdades -, George e Martha se embrenham por jogos onde o objetivo principal é machucar um ao outro tanto quanto for possível. Para isso, se utilizam constantemente da presença de Nick e Honey, casal aparentemente feliz ao início do filme, mas que vai sendo desgastado por George e Martha, até que suas verdades antes engolidas comecem também a atingir a superfície. A sensação que temos é que os personagens se desnudam continuamente (e não voluntariamente), destrinchando uns aos outros até que se atinja o osso, em uma espécie de autópsia descontrolada em ambos os casamentos. Nada consegue sobreviver aos constantes ataques; os quatro personagens agem como crianças mimadas que, ao se machucarem, empurram os outros para que eles também se machuquem. E o pouco de amor que aparece na tela em raras cenas mais cheira a piedade ou comodismo.

Apesar de todas as atuações serem dignas de aplausos, o destaque é, obviamente, das mulheres. Elizabeth Taylor e Sandy Dennis estão impressionantes: a primeira como a corrosiva e frustrada Martha, a segunda como a frágil esposa que está sempre enjoada. É interessante perceber também que o diretor, Mike Nichols, retornaria a esses mesmos elementos em um de seus filmes mais atuais, Closer. O foco em apenas quatro personagens, as diferentes interações entre eles, corrosivos jogos de amor e ódio... Muito do que é abordado em Closer foi previamente delineado em Quem tem medo de Virginia Woolf?, embora o segundo possua uma carga dramática consideravelmente mais forte.

Quando as duas horas e onze minutos chegam ao fim, o espectador já está exausto, irritado, frustrado, amargo, ácido, tão destrutivo e destruído quanto os quatro personagens do filme. Uma ótima experiência quando se está com estrutura suficiente para aguentar o peso de tantos diálogos afiados.