Me excita, porra!

3/10/2013
















Delicadamente traduzido como Me excita, droga! (ou mais espertamente adaptado para Me excita, porra!), o filme norueguês Få meg på, for faen surgiu na minha semana de forma súbita e casual. Encontrei, simpatizei, assisti. Nunca tinha visto uma produção norueguesa. E me chamou a atenção, além da capa, o tema: Alma, 15 anos de idade, sempre excitada. Tem sonhos eróticos com um menino da escola (e com deus e o mundo), moradora de uma cidade minúscula em que tudo é domínio de todos. Alma, 15 anos de idade, com um desejo gigantesco entre as mãozinhas adolescentes que ainda não descobriram bem como o segurar.

O filme tem seus pontos fracos. Beira uma certa artificialidade, se perde em vários momentos, apela para alguns clichês. Incomoda, sobretudo, a visão maniqueísta dos personagens, entregues àqueles papeis já cristalizados (e tão exaustivamente explorados) da menina invejosa que faz intrigas, a rebelde que alimenta o sonho de ir embora para uma cidade grande, além de - claro - o menino imaturo que toma atitudes imaturas em prol de sua valiosa popularidade escolar. Tudo muito exaurido e esvaziado, mas - para além dessas falhas - Få meg på, for faen acaba se revelando um daqueles filmes despretensiosos que dizem mais do que aparentam estar dizendo.

Alma, presa em seu isolamento doloroso, vítima do silêncio imposto pela mãe que não abre espaço nem sequer pra diálogo, experimenta o nascimento de uma sexualidade livre que - exatamente por nascer em meio a uma sociedade na qual a mulher não tem esse direito - passa de saudável a doentia. De libertadora a confinadora. E, afinal, não seria esse fardo carregado por Alma durante o filme inteiro, no fundo, o fardo de toda mulher? Ao contrário da maioria, no entanto, o que impressiona é a resistência de Alma em não se permitir capturar por essa repressão que parece vir de todos os lados; Alma não se rende, mesmo quando feita de Geni, não permite que transformem seu desejo em autorrecriminação, não se deixa castrar pelas convenções machistas segundo as quais a sexualidade aflorada é natural nos homens enquanto à mulher cabe o papel de princesa, pura, romântica e imaculada (e talvez resida exatamente nessa ideia o final do filme; aparentemente bobo e definitivamente fácil, o final convencional lembra que, para aqueles que não se rendem, é possível alcançar - vez ou outra - o respeito do outro, assim como a delimitação das fronteiras do próprio território).

Mesmo a escolha de se construir a narrativa em uma cidade pequena, na qual vizinhos anotam em bloquinhos os horários de entrada e saída de cada um, não parece ser gratuita: diante da sexualidade feminina, toda cidade é pequena. Todo controle é pouco, todo domínio é insuficiente. Às Almas e Genis, restam as pedradas, as fogueiras verbais, o desafio de fugir desse eterno cobrir-se enquanto o homem se descobre (em todas as possíveis dimensões do termo). Às Almas e Genis, resta esse apelo que, embora frequentemente engolido pela maioria das mulheres, é por elas gritado com fôlego escancarado: "me excita, porra!"